top of page
ITI

Cannabis para dor neuropática: o que os estudos dizem




Embora diversos estudos clínicos sobre Cannabis medicinal e dores crônicas apontem resultados muito promissores, muitos médicos ainda não se sentem seguros na recomendação do uso de derivados canabinoides como o canabidiol e o tetrahidrocanabinol para o manejo da dor neuropática.

Neste conteúdo, falaremos sobre o perfil de tolerância das substâncias e do que já sabemos cientificamente sobre os mecanismos de ação dos canabinoides em quadros de dor neuropática. Continue a leitura e entenda qual o papel da Cannabis medicinal nesse contexto.


Mecanismos de ação da Cannabis para dor neuropática

Estima-se que a dor neuropática afete parte significativa da população mundial, podendo em alguns casos tornar-se uma condição grave e incapacitante. Esse tipo de dor crônica é decorrente de lesões nos nervos sensitivos do Sistema Nervoso Central e/ou periférico, o que pode causar diferentes percepções de intensidade e frequência da dor.

O uso da Cannabis medicinal para tratar quadros de dor neuropática surge como uma ferramenta farmacológica importante no arsenal terapêutico desses pacientes, visto a maior refratariedade e incidência de efeitos adversos associados à polifarmácia, comuns na abordagem desses casos. No entanto, muitos médicos ainda se sentem inseguros diante da terapêutica canabinoide, apesar de haver diversas pesquisas demonstrando a segurança e eficácia dessas substâncias nesse contexto.

Um exemplo é esta revisão sistemática que analisou 374 estudos abrangendo 171 intervenções quanto à eficácia antinociceptiva em modelos pré-clínicos de dor. Os resultados mostraram que os canabinoides seletivos tipo 1, canabinoides tipo 2, agonistas de receptores canabinoides não seletivos (incluindo delta-9-tetra-hidrocanabinol) e agonistas de receptores ativados por proliferadores de peroxissoma (PPARs) atenuaram significativamente os comportamentos associados às dor neuropática e inflamatória. O CBD, inibidores da amida hidrolase de ácidos graxos e inibidor da monoacilglicerol lipase atenuaram significativamente os comportamentos associados à dor em modelos de dor neuropática, mas produziram resultados mistos em modelos de dor inflamatória.

CBD e THC para dor neuropática

O canabidiol é o principal canabinoide que tem sido mais abordado nas pesquisas científicas, mas já existem diversas evidências em relação às propriedades terapêuticas de outros derivados canabinoides no combate à dor neuropática, como o tetra-hidrocanabinol (THC) e a canabidivarina (CBDV).

Um exemplo é este experimento pré-clínico que avaliou o uso dos fitocanabinoides THC e CBD e também, da morfina em camundongos durante um período de três semanas. Os resultados mostraram que todas as substâncias trouxeram efeitos positivos no combate à dor crônica decorrente de lesão do nervo ciático. No entanto, foi demonstrado que os canabinoides THC e CBD, em contraste com a morfina, produzem alívio duradouro da dor neuropática nesse modelo de lesão do nervo ciático. Especificamente o CBD pode representar uma opção terapêutica bastante interessante devido a seu baixo perfil psicoativo e baixa associação com potenciais efeitos adversos..

Este outro estudo realizado com 15 pacientes portadores de dor neuropática radicular crônica mostrou que o THC foi capaz de reduzir significativamente a dor desses pacientes em comparação com o placebo. Os pesquisadores relacionaram a analgesia induzida pelo THC a uma redução na conectividade funcional avaliada pelo exame de ressonância magnética funcional, entre o córtex do cíngulo anterior (ACC) e o córtex sensório-motor, duas regiões caracteristicamente envolvidas no processamento da dor.

Outro exemplo do potencial terapêutico do CBD e THC na dor neuropática é esta meta-análise que avaliou o uso de THC:CBD, THC, CBD e CBDV no tratamento de dores neuropáticas. A revisão abrangeu 379 estudos, envolvendo 861 pacientes portadores desse tipo de dor.

Em comparação com o placebo, os resultados mostraram que os pacientes que tomaram THC:CBD foram 1.756 vezes mais propensos a obter uma redução de 30% na dor e 1.422 vezes mais propensos a obter uma redução de 50% na dor.

No entanto, pesquisadores apontaram que o uso da CBDV não mostrou diferenças significativas, sendo, portanto, necessárias novas pesquisas para investigar os benefícios desse canabinoide no manejo da dor neuropática.

O nabiximol, que combina proporções semelhantes de CBD e THC, também já foi avaliado em uma revisão sistemática com meta-análise de ensaios clínicos randomizados e controlados no tratamento da dor neuropática. O estudo englobou 9 estudos clínicos randomizados – envolvendo ao todo 1.289 participantes – e demonstrou que o uso do nabiximol trouxe resultados superiores ao placebo no tratamento de dores neuropáticas, em pacientes com alívio inadequado da dor. A análise conjunta indicou um pequeno efeito de tamanho, mas estatisticamente significativo na redução da dor.


Eficácia, tolerância e segurança da Cannabis medicinal no tratamento da dor neuropática

Os estudos abordados ao longo deste conteúdo sugerem a eficácia da Cannabis medicinal no contexto de dores neuropáticas, sobretudo quanto ao uso do canabidiol e tetra-hidrocanabinol. Embora os resultados sejam promissores, os pesquisadores alertam para a necessidade de novas pesquisas sobre o tema, especialmente em relação a outros fitocanabinoides e elementos químicos da planta, visando evidências mais robustas.

Esta revisão bibliográfica realizada por uma força-tarefa global da Associação Internacional para o Estudo da Dor avaliou o uso medicinal da Cannabis na dor neuropática sob três aspectos principais: 1) o uso de canabinoides em modelos pré-clínicos de dor; 2) a eficácia relacionada à dor e os possíveis efeitos adversos envolvidos; 3) as perspectivas e direções para pesquisas futuras.

Os modelos pré-clínicos (de roedores) desta revisão auxiliam a compreender os mecanismos de ação dos derivados canabinoides e do Sistema Endocanabinoide na supressão da sinalização e dos comportamentos nociceptivos. Os autores concluíram que existem evidências substanciais em modelos animais, que apóiam os derivados canabinoides como agentes bastante promissores para o desenvolvimento de medicamentos analgésicos, embora o desafio de traduzir esse conhecimento em medicamentos clinicamente úteis não deva ser subestimado.

Outra revisão sistemática de literatura, esta com estudos clínicos,abrangeu 15 estudos duplo-cegos randomizados (1619 participantes) comparando o uso de fitocanabinoides ou canabinoides sintéticos com placebo no tratamento da dor neuropática crônica. A duração dos tratamentos variou entre 2 e 15 semanas.

Em relação à eficácia, os desfechos clínicos desses estudos apontaram que houve redução de 30% a 50% nos episódios de dor e na intensidade dos quadros de dor, além de uma melhoria geral na qualidade de vida dos pacientes avaliados.

6 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


  • Instagram
bottom of page